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Campo do Mogiana Ainda Sobrevive

Campo do Mogiana Ainda Sobrevive

Leandro Ferreira/AAN

O octogenário conjunto esportivo do estádio Doutor Horácio Antônio da Costa é patrimônio histórico de Campinas desde novembro de 2019


O estádio Doutor Horácio Antônio da Costa, localizado no bairro Botafogo, em Campinas, completou 80 anos de história na última terça-feira. O complexo, também conhecido como Cerecamp (Centro Educativo, Recreativo e Esportivo do Trabalhador de Campinas) e chamado popularmente de Campo do Mogiana, foi inaugurado oficialmente no dia 14 de julho de 1940, com a realização da partida entre o extinto Esporte Clube Mogiana, equipe tricolor que nasceu da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e mandou partidas no local dos anos 40 aos 60, e o Uberaba, de Minas Gerais. Na ocasião, o jogo terminou empatado por 1 a 1.
Ao longo de sua primeira década de existência, o estádio Horácio Antônio da Costa — nome dado em homenagem ao inspetor geral da companhia ferroviária — sediou os Jogos Abertos do Interior de 1945, realizados em Campinas, e também recebeu o primeiro duelo noturno da história do confronto entre Guarani e Ponte Preta, disputado em 28 de abril de 1948, que terminou com goleada bugrina por 5 a 2.
Naquela época, era o único estádio da cidade com torres de iluminação — o Moisés Lucarelli seria inaugurado em setembro de 1948 e o Brinco de Ouro somente em 1953. Ao todo, entre 1941 e 1950, o Campo do Mogiana recebeu 10 Dérbis, com cinco vitórias para cada lado. “O Guarani necessitou jogar no Mogiana como mandante porque reformava o seu antigo estádio, o Pastinho, enquanto a Ponte Preta também precisou utilizar o local pois não tinha ainda um campo próprio, jogando anteriormente no Hipódromo Campineiro. Na década de 40, até o Corinthians veio treinar no Horácio Costa visando à disputa dos torneios que disputava na época, dentre eles o Campeonato Paulista”, relata o historiador e escritor Celso Franco de Oliveira Filho, autor do livro Fora dos Trilhos: A História do EC Mogiana (2008).
Na época de sua inauguração, o estádio era considerado um dos mais modernos do Brasil, com campo de futebol, pista de atletismo, quadra poliesportiva e arquibancadas com tribuna de honra e cabine para imprensa. O recinto ficava atrás apenas do Pacaembu, em São Paulo — inaugurado três meses antes, em abril de 1940 — e São Januário, no Rio de Janeiro, que vinha desde 1927. “Com uma estrutura fantástica e alojamentos, o Campo do Mogiana era o estádio mais moderno do interior do Brasil. Pouca gente sabe, mas o Esporte Clube Mogiana telegrafou para a CBD, atual CBF, cedendo todas a instalações do clube, inclusive o estádio, para a Copa do Mundo de 1950, caso a entidade precisasse”, revela Celso.
No início dos anos 70, após a Fepasa encampar a ferrovia Mogiana e o clube de futebol homônimo chegar ao fim, o complexo esportivo passou a ser administrado pelo Governo do Estado de São Paulo. Na década de 80, serviu como casa do antigo Esporte Clube Gazeta, enquanto nos anos 2.000, acolheu o extinto Campinas Futebol Clube, time então fundado pelos ex-jogadores do Guarani, Careca e Edmar Bernardes.
De 2002 a 2009, o Campinas atuou como mandante no local pelas divisões inferiores do Campeonato Paulista. “Era um sonho transformar o Campo da Mogiana em uma pequena arena para que o Campinas fosse a segunda opção para os torcedores de Guarani e Ponte Preta. Infelizmente, não tivemos vida longa pela dificuldade em assumir de vez o estádio. Mesmo depois de ajustar muitas coisas lá, tivemos que deixar a estrutura, o que até hoje não consigo entender”, lamenta Careca. Após a venda do Campinas e a sua transformação em Sport Club Barueri, em 2010, o Cerecamp voltou a ficar órfão de uma equipe local. Entre 2009 e 2011, o estádio também chegou a receber jogos da tradicional Copa São Paulo de Futebol Júnior.

Página especial
Por conta da ocasião comemorativa do aniversário de 80 anos do Campo do Mogiana, a página “Cerecamp — Nos Trilhos da Memória” foi criada na internet para contar a história do local por meio de depoimentos em vídeo de historiadores, pesquisadores, jornalistas e personagens que marcaram a trajetória do estádio. A página está disponível nas redes sociais (Facebook e Instagram) e também conta com um canal no Youtube
Historiador faz sugestões para a utilização do espaço
Com um passado marcado por muita pompa e modernidade, o octogenário conjunto esportivo do estádio Doutor Horácio Antônio da Costa é patrimônio histórico de Campinas desde novembro do ano passado, mas encontra-se atualmente interditado para receber eventos esportivos com presença de público, necessitando de restauração por parte do poder público.
“O primeiro passo para a municipalização do estádio já foi dado: o tombamento pelo CONDEPACC”, diz o historiador Fernando Pereira da Silva. “A estrutura do estádio foi construída com trilhos de trem e acredita-se que haja resistência por muito tempo, mas não seria justo a cidade de Campinas receber o estádio do jeito que está e assumir a despesa de uma reforma. Há áreas em torno do estádio que podem ser perfeitamente vendidas e isso traria recursos ao Governo do Estado para investir em uma reforma”, sugere o historiador.
“Depois, com uma legislação municipal, o local poderia ser alugado para uma série de atividades esportivas a partir de cobrança de ingresso. Com uma administração séria, esse dinheiro seria revertido para a própria manutenção do complexo, que pode se transformar no principal centro esportivo da cidade de Campinas. O local poderia receber fases decisivas dos campeonatos municipais e regionais de futebol, acolher esportes emergentes como rúgbi, agora olímpico, e futebol americano, além de abrigar escolas de artes marciais e de atletismo, como havia até pouco tempo atrás. Além disso, Guarani e Ponte Preta poderiam usar o campo de futebol para suas categorias de base em troca de colaborar na manutenção. A própria Secretaria de Esportes de Campinas poderia se mudar para lá, levando inclusive o Museu do Esporte para uma área bem maior do que ocupa atualmente no Parque Taquaral.
São milhares de pessoas que poderiam frequentar o Mogiana, até mesmo consumindo produtos em bares e lanchonetes terceirizados. Para que isso aconteça, a população precisa fazer a sua parte pressionando o poder público e cobrando a utilização adequada do espaço”, clama Fernando. 
SAIBA MAIS
O busto de Horácio da Costa é feito de bronze, foi executado pelo escultor Domingos Nucci na oficina artística de cantaria e estuque de Otaviano Papais e está assentado sobre pedestal de granito rosa apicoado, localizado na entrada principal do estádio desde 1945. As informações são do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas.

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