Atletas parados: como acontece o descondicionamento?
Ouvimos falar da maioria dos aspectos negativos da decisão das atividades esportivas serem suspensas por causa do coronavírus, sendo a maior delas o adiamento das Olimpíadas. Uma grande preocupação é o fato de que mesmo atletas de elite, incluindo jogadores profissionais, podem ser descondicionados em um período muito curto de tempo. Imagine nós, pobres mortais amadores e que gostamos de fazer nossas provas nos fins de semana. Como ficamos com esse destreino?
Bicicleta encostada, tênis pendurado, bola parada? Mas você não precisa se encostar também, arrume um tempo e um cantinho para malhar em casa — Foto: Istock Getty Images
É certo que dois dos poucos aspectos positivos da paralisação são os jogadores e atletas que recebem algum alívio da rotina de uma longa temporada e tempo suficiente para se recuperar de lesões, podendo usar o tempo de inatividade para tratar as dores e fortalecer desequilíbrios.
Mas, tendo trabalhado há muitos anos com atletas nos hospitais e consultório e na minha época de médica da seleção brasileira de futebol feminino, descobri que mesmo uma semana de ausência no treinamento resulta em perdas mensuráveis no condicionamento dos praticantes esportivos.
Isso pode não ser um problema para LeBron James e outros jogadores da NBA que moram em mansões equipadas com enormes ginásios, e outros da nossa seleção brasileira de futebol e, lógico, outros esportes de elite. Mas e os jogadores com baixos salários e atletas amadores de quarentena, obrigatória ou autoimposta, quando ir a uma academia comercial está fora de questão? O que nos resta é seguir virtualmente nossos professores e nos estimular para minimizar a perda.
Todos sabemos que precisamos treinar de forma consistente, treinar duro e “nos recuperarmos mais” para obter o desempenho ideal. Um exemplo dessa determinação são os triatletas, que são ótimos para treinar mais e mais. Ouvimos muito sobre o verdadeiro desafio de obter uma recuperação adequada. Mas o que acontece quando fazemos uma pausa prolongada do treinamento, voluntária ou involuntariamente? Quanto tempo de inatividade é suficiente e quanto é demais?
Reversibilidade do treinamento: “use ou perca”
O princípio da reversibilidade do treinamento afirma que, embora o treinamento físico regular resulte em melhor desempenho atlético, interromper ou reduzir substancialmente o treinamento causa uma reversão parcial ou completa das adaptações físicas, comprometendo o desempenho atlético. No mais simples dos termos: use-o ou perca-o (traduzi do inglês “Use it or Lose it”)
Quando os triatletas param de treinar por um longo período de tempo, seus ganhos de condicionamento físico, conquistados duramente, deterioram-se e eventualmente desaparecem completamente, geralmente mais rapidamente do que foram obtidos. É necessário manter estímulo de treinamento suficiente para manter as adaptações induzidas pelo treinamento.
Em um estudo, um remador olímpico atingiu o pico de condicionamento físico durante os Jogos e depois tirou férias de 8 semanas do treinamento. Ele levou 20 semanas para retornar ao seu nível de condicionamento físico anterior!
Em outros artigos, vemos que:
- Em até 10 dias, você começa a perder resistência, aumentar a gordura corporal;
- Em cerca de 14 dias, a densidade mitocondrial e a atividade enzimática diminuem;
- Em de 4 a 6 semanas sem treinamento, perdemos 10% de força e potência muscular;
- Em mais que 6 semanas perdemos 6% da resistência.
A força é retida por mais tempo do que a resistência quando os atletas fazem uma pausa nos treinos. E, francamente, exercícios de fortalecimento eficazes podem ser feitos em qualquer lugar. Durante a quarentena, é o que a maioria consegue fazer e atletas provaram que isso é verdade nos artigos citados. Com relação à resistência, depois de atingir a marca de seis semanas você começa a perder um valor considerável de “fôlego”.
Como muitas vezes é necessário muito mais tempo para recuperar o condicionamento perdido do que é preciso para a sua aquisição, entrar no modo de playoff intenso e parar por tempo prolongado de pouco exercício seria um desastre para os atletas e jogadores. Portanto, vale a pena tentar permanecer no pico do condicionamento na medida do possível, mesmo em casa. Faça um esforço e mantenha uma rotina!
Bons treinos,
Ana Paula Simões – CRM 108667
Referências:
- The Detraining and Retraining of an Elite Rower: A Case Study. J Sci Med Sport. 2005 Sep;8(3):314-20. DOI: 10.1016/s1440-2440(05)80042-8.
- The Effects of Short Term Detraining and Retraining on Physical Fitness in Elite Soccer Players. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29746505/
- The Effects of Detraining and Retraining Periods on Fat-Mass and Fat-Free Mass in Elite Male Soccer Players. eerJ. 2019 Aug 13;7:e7466. doi: 10.7717/peerj.7466. eCollection 2019.
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